quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Descobertas


Guilherme nunca conseguiu se adapitar ao colegial, sempre fora muito excluido e nunca se sentiu realmente JUNTO dos outros, sabe quando você se sente meio de lado? Guilherme sentia isso o tempo todo durante o colegial. Na verdade ele sempre se sentiu assim. Não era uma coisa do colegial em si, era algo especial do Guilherme. A solidão, o isolamento e até o bullying que ele sofria eram resultado das atidutes que ele tomava.
Desde pequeno Guilherme era diferente. Enquanto os outros garotos gostavam do futebol, ele preferia os livros, e quando o chamavam para brincar de pega-pega, ele até ia, mas continuava a se sentir a parte da brincadeira, solitário, ele sempre preferia as atividades que pudesse realizar sozinho, com medo de sentir aquele vazio da solidão.
E por medo da solidão, Guilherme se tornou sozinho.
Ele se aproximava das outras pessoas, mas por ser timido, muitas vezes passava por arrogante. Não falava muito, e cresceu falando apenas com os que conhecia bem, aquelas pessoas que mesmo quando ele se sentia isolado, o pegavam pela a mão e preenchiam a sua solidão. Pessoas raras.
Não gostava de muita gente ao seu redor, com o tempo começou a evitar sair com os poucos amigos para lugares com muita gente.
No fundo, Guilherme odiava a solidão, e sentia um grande vazio em si mesmo.
Acontece que um dia de sol - sabe aqueles lindos dias de sol, que só são bonitos, mas são tão quentes que deixam de ser agradáveis? Então, foi num dia desses - ele saiu de casa e se dirigiu ao novo lugar onde ele iria estudar. O colegial acabara e agora ele se preparava para uma nova tortura: a faculdade.
Bom, nesse dia de sol ele pensou em não ir, pois tinha medo do trote e da quantidade de pessoas reunidas em um único local. Mas ele foi, em um impulso de esperança, em uma vontade repentina de mudar, um surto psicótico (sergundo ele) ele foi e agora descia do ônibus meio que vacilante. E o coraçaõ batia tão rápido que era possivel ouvir TUM DUM TUM DUM TUM DUM mas a respiração estava controlada, afinal ele não iria deixar inguém notar o quão assustado estava.
Era muita gente, tanta gente que o gramado da faculdade estava lotado, e isso não era pouca coisa. Guilherme pensou em dar meia volta, mas era tarde demais. O agarraram pelo broço, e começaram a pintar toda a parte do corpo dele, rosto pescoço, roupas, braço - até o ouvido!

- Qual e o teu nome, bixo?
- G-Guilherme.
- Bem vindo!

E ele pensou que não era tão ruim quanto ele pensou que seria... Era pior! Então, quando ele conseguiu se livrar de todas aquelas pessoas e se sentar num canto ele pensou no que tinha dado nele, com certeza havia sido uma loucura ir até lá! E perdido em pensamentos, não percebeu o rapaz que sentou ao seu lado, nem ouviu o que ele havia perguntado. O rapaz o cutucou.

-Hey, bixo! Responde: qual o seu nome?
- Ah! desculpa! M-Meu nome é G-Guilherme.
- Oi, Gui! Vou te chamar assim, ok?

Guilherme ficou meio atordoado, mas po sorriso do rapaz era tão agradável, trazia tanta calma que ele simplesmente respondeu que: Tudo bem...

-Você gosta de que musicas?
-Não sei.
-E qual é seu melhor amigo?
-Não sei.
-Você namora?
-Não.
-Qual seu esporte favorito?
-Não tem.

E as perguntas continuaram, até que o rapaz foi chegando mais perto, mais perto, mais perto. O rapaz tentou beijar Guilherme, mas ele se afastou na hora.

-O que foi isso?- perguntou Guilherme assustado.
-Desculpa, Gui! Foi sem querer, é que te achei tão lindo, e eu to meio chapado, sabe? Me desculpa, mesmo. - e o rapaz parecia tão arrependido que Guilherme o perdoou.

-Mas, qual o seu nome?
-Felipe. - e mais uma vez ele soltou seu sorriso encantador, e mais uma vez o coração de Guilherme foi preenchido de calma e felicidade.
- Bom, Felipe, eu tenho que ir.
-Mas já!
-É, eu tenho muitas coisas para fazer.
-Posso te acompanhar até o ponto?
-Acho melhor não.
-Cara, desculpa mesmo, não vai acontecer de novo, prometo!
- Hum... ok, mas... Não vai acontecer de novo, certo?
-Não partindo de mim.
-O que você quis dizer com isso?
-Deixa para lá- Felipe disse sorrindo - E pode me chamar de Fê.
-F-Fê... - Guilherme murmurou.

Caminharam os dois lado a lado para o ponto, Guilherme em silêncio e Felipe falando muitas coisas, sobre a faculdade, sobre o que ele pensava da vida, sobre festas e sobre filmes e musicas. Guilherme apenas ouvia maravilhado, adimirando cada vez mais aquele rapaz sorridente e tranquilo que estava com ele.
Quando chegaram no ponto, ficaram conversando... Na verdade Felipe ficou falando e Guilherme ouvindo.

-Você é muito tímido, Gui! Tem que ser mais solto, se não as gatas nunca vão se aproximar de você.
-E-Eu não gosto de falar com garotas.
-Você é gay, cara?
-Não!
-Que pena, por que eu sou, e te achei um gatinho.
-P-Para com isso. Não tem graça, eu não gosto desse tipo de brincadeira!
-Não é brincadeira, cara, desde o momento que te vi, gostei de ti, e não vou esconder isso.
-M-Mas você disse que não ia acontecer de novo!
-Não vai. Eu prometi, não é? Confia em mim.
-T-Tá...
-Teu ônibus tá vindo aí.
-Tá. Tchau, Felipe..
-Fê!
-Tchau, Fê.
-Tchau, Gui!
Quando eles apertaram as mãos, Guilherme sentiu um pedaço de papel na mão e o segurou. Felipe lhe deu uma piscadinha e mandou aquele sorriso mais lindoque fez o coração de Guilherme se abalar. Quando ele sentou no banco, abriu o papel, e viu com uma caligrafia meio apressada:

"Que bom que eu te achei, pois sempre me senti muito solitário, e você me traz paz e preenche o vazio que sinto dentro de mim. Acho que vou me apaixonar por você, mas tudo bem, eu sei me controlar. Obrigada de novo. Fê."

E Guilherme chorou.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Carta de um Suicida

O que é a vida?
Para que ela serve?
Eu não sei.

Muitas vezes a unica solução que vejo é a morte.

Depois de tentar a morte mais uma vez, vejo que os comprimidos que tomei não fizeram efeito, os cortes que fiz não foram tão profundos.

Quando a gente pede socorro, muitas vezes não consegue falar. A gente age, a gente tenta, mas ser forte não é facil. Quando a gente pede socorro é por que essa é nossa ultima alternativa. Por que nunca ouve nossos gritos de socorro?

Todos dizem que compreendem, todos dizem que tristeza não é motivo para a morte. E quando não se é triste, quando se é vazio? De que serve uma existencia nula? A morte que eu pedi não me chegou. Minha existencia é nula, não sou nada. O vazio mais completo reina em mim.

E então vem o abandono. Eu estava pedindo socorro, mas ninguem ouviu. Meu pedido de socorro foi ignorado e trocado por coisas que são mais importantes, e fui abandonada. SOCORRO! Eu gritei, eu gritei bem alto. Me ajudem, por favor! Quantas vezes eu não disse isso? Ninguém ouviu.

Quando a gente ouve os gritos dos outros, muitas vezes não ouvem o nosso.

Então veio a dor. A dor do vazio, a dor de uma promessa. O peso de uma vida. a dor do abandono. Eu chorei. Peguei meu estilete, já estava velho. Eu lembro quando o comprei e uma amiga brincou: Não me corta os pulsos com isso, Hein?. Que pena, ela não sabia que eu estava comprando justamente para isso.

A dor dos cortes na verdade é um alivio. Quando não se tem coragem para acabar com a vida, os cortes fazem a dor maior sumir.

Mas dessa vez era diferente. Quando você foi embora eu já estava com uma decisão tomada. Pela primeira vez peguei o estilete com um objetivo que não era a dor apenas. Tomei todos os comprimidos que tinham aqui, todos os antidepressivos.
Um, dois, tres cortes, na vertical, em cima da veia. assim fica mais dificil do sangue coagular.

O sangue começou a jorrar. Ai eu te liguei. Você pediu para eu não fazer nenhuma bobagem, eu já tinha feito. Fiquei com tanta pena de ti que resolvi não te contar.

Para acelerar, cortei também os tornozelos. Mais sangue. Te mandei a mensagem, você tinha de se preparar. Eu senti meu corpo ficar mole e você ligou, uma, duas, tres vezes. Não atendi. Fiquei preocupada com você e te liguei.

Depois Mais cortes, a dor maior não queria parar. Vazio, nada. Então vi que meus pedidos de socorro não foram ouvidos... Coloquei Clarisse para tocar e fechei os olhos. Menti para você, para que não se preocupasse comigo, afinal, nao queria que você ficasse muito desesperado, você não ouviu meu pedido de socorro e não tinha nada que você pudesse fazer.

Decidi que estava na hora de acabar com tudo de uma vez. Cortei a unica veia que sabia que era mortal, na virilha. Pena que meu estilete era muito velho, e ainda estou aqui para contar essa história. Mas eu não desisti, afinal, nunca vão ouvir meu pedido de socorro, e no fundo... Eu te amo, mas não sou correspondida.

Tenho ainda a receita, já escondi. Mais algumas caixas de comprimido e um pouco de bebida e tudo se resolverá.

Adeus, você provavelmente não me verá de novo.

Clarisse


Composição: Renato Russo

Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz que me entende nunca quis saber

Aquele menino foi internado numa clínica

Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças

Dos sonhos que se configuram tristes e inertes

Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha.
E Clarisse está trancada no banheiro

E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no canto, seus tornozelos sangram

E a dor é menor do que parece

Quando ela se corta ela se esquece

Que é impossível ter da vida calma e força

Viver em dor, o que ninguém entende

Tentar ser forte a todo e cada amanhecer.

Uma de suas amigas já se foi

Quando mais uma ocorrência policial

Ninguém entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom-samaritano
Cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente

Como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente

Nada existe pra mim, não tente

Você não sabe e não entende

E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente

E sente a essência estranha do que é a morte

Mas esse vazio ela conhece muito bem

De quando em quando é um novo tratamento

Mas o mundo continua sempre o mesmo

O medo de voltar pra casa à noite

Os homens que se esfregam nojentos

No caminho de ida e volta da escola

A falta de esperança e o tormento

De saber que nada é justo e pouco é certo

E que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que existe

Contra todas as meninas e mulheres

Um mundo onde a verdade é o avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada no seu quarto

Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola

Mas um dia eu consigo existir e vou voar pelo caminho mais bonito

Clarisse só tem 14 anos...